Pensei na edição de hoje enquanto estava na casa do nosso maior doador — sou fundador de um fundo patrimonial que apoia estudantes de baixa renda.
No meio da conversa, entre histórias e devaneios, ouvi coisas tão marcantes que senti que precisava escrever sobre isso.
Espero que goste.
Fatos & Histórias
As coisas simplesmente são. É você quem as interpreta de um jeito diferente.
Existe um treinamento corporativo — desses caros, que prometem mudar a forma como você enxerga o mundo. E, às vezes, cumprem. Uma das ideias centrais é simples: a forma como você interpreta os fatos molda, de forma concreta, a sua realidade.
Não é uma ideia difícil de entender. O difícil é viver de acordo com ela. E um dos ensinamentos maiores é justamente esse — a habilidade de saber distinguir o que é fato e o que é interpretação do fato.
Vamos lá.
Te prometo que vale à pena.
Fábula chinesa.
Um fazendeiro vivia com seu único filho em uma vila no interior da China. Trabalhava duro todos os dias, com a ajuda do seu cavalo, preparando o campo para a colheita do ano.
Na véspera da colheita, o cavalo fugiu. Simplesmente sumiu, saiu correndo, foi embora. Sem ele, o trabalho seria impossível. Os vizinhos vieram consolar o fazendeiro:
“Que azar. Justo agora.”
O fazendeiro respondeu apenas:
“Talvez.”
Dois dias depois, o cavalo voltou. E trouxe com ele um cavalo selvagem. Agora, o fazendeiro tinha dois cavalos.
“Que sorte!”, disseram todos os vizinhos. “Agora você terá o dobro de força no campo! Que grande dia, que grande sorte!” O fazendeiro sorriu, mas respondeu o mesmo:
“Talvez.”
Dois dias depois, o filho tentou domar o novo cavalo, selvagem. Caiu feio, quebrou a perna, e ficou impossibilitado de andar. Muito sangue, muita dor.
Os vizinhos voltaram: “Que tragédia. Que azar. Sem ele, você não conseguirá colher nada.”
O fazendeiro, calmo, respondeu:
“Talvez.”
Na semana seguinte, soldados do imperador passaram pela vila, convocando todos os jovens para a guerra. Todos os filhos foram levados — menos o do fazendeiro, que ficou por causa da perna quebrada e porque não conseguia nem andar.
“Que sorte a sua”, disseram os vizinhos, emocionados.
E, mais uma vez, o fazendeiro respondeu:
“Sorte ou azar? Quem sabe.”
A moral é simples. Uma coisa é o fato — outra coisa é a interpretação dele. As coisas na vida simplesmente são. Quem acha que é sorte ou azar, interpreta dessa forma.
Mas a nossa cabeça, naturalmente, quer interpretar tudo. Quer carimbar o que é bom, o que é ruim, o que foi vitória, o que foi fracasso. E quase sempre se engana. A vida é um tabuleiro muito maior do que nós conseguimos enxergar. Butterfly Effect.
Sorte e azar não são fatos.
São julgamentos precipitados.
Então, da próxima vez que algo parecer dar errado, talvez a pergunta certa não seja “por que isso aconteceu comigo?”, mas sim:
“Será mesmo que é ruim?”
Respira.
Espera.
O tempo costuma mostrar o resto.
Bom final de semana.
BGJ.
Sempre com as melhores reflexões